terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

A volta dos que não foram.

"Foudèr, é pra você." "Tiana..." "Sim, Foudèr..." "Qual é uma das coisas que eu mais odeio?" "Oi?" "Qual é uma das coisas que eu mais odeio?" "Qual é uma das coisas que você mais odeia?" "É. Qual é uma das coisas que eu mais odeio?" "É... num sei. Calor?" "Eu só odeio calor quando eu estou com calor. Outra coisa." "Cachorros grandes? Crianças até seis anos? Toalhas que não secam?" "Não. Não. Não. Agora, aqui, nessa sala, o que eu poderia odiar?" "Realmente não faço ideia." "Você entrou sem bater, Tiana. Sem bater na porta. Simplesmente você entrou, dizendo: 'Foudèr, é pra você.' Eu poderia estar pelado. Poderia estar peidando. Poderia estar cagando no chão. Eu poderia estar tirando pó atrás da porta! E você simplesmente entrou, dizendo: 'Foudèr, é pra você'. Você podia ter me atrapalhado, me constrangido, me TUDO, graças a sua falta de educação." "Eu pensei que só nos banheiros devêssemos bater na porta antes de entrar." "É, realmente, para os mal-educados o banheiro é o único lugar que se deve bater na porta antes de entrar." "Me desculpe." "Quem é, no telefone?" Era o Amany, meu Abominável preferido. Fiquei muito feliz pela ligação repentina dele; há mais de um mês não conversávamos mais. Os dois sem tempo. Ele, com as mãos nos sushis; eu, fazendo coisas desnecessárias. Conversamos muito. Me contou do calor insuportável e das intervenções humanas que Bombinhas está sofrendo; dum filho-da-puta que lhe roubou mil reais; da recuperação do tombo de bicicleta (criança grande, mesmo, uhsuahsuasa); e dos novos arranjos que fez para algumas das músicas da nossa banda de música experimental, a "chiquitoPerera cansado-de-guerra". Ficaram demais, estou doido pra ouvir. "Foudèr, você precisa voltar com a história de TAMAGOTCHI". "Como?" "TAMAGOTCHI. Você precisa voltar a escrever." "Não, não, não, Amany, nem pensar. Aboli definitivamente a história dos planos da casadeGiz. O filme foi adiado, portanto o roteiro também foi pro arquivo." "Mas Foudèr, a história é boa, tava demais. Você não precisa escrever o roteiro pra filme. Sei lá, escreve pra quadrinhos. Não era essa a segunda alternativa?" "Era, mas essa ida do Rocha para o Rio me pegou desprevenido. Fiquei completamente sem ânimo. Por enquanto não. Quem sabe daqui um mês me dá ânimo e eu continuo o roteiro do filme?" "Mas acho que quadrinhos ia ficar perfeito. Não foi você mesmo que disse que teria que cortar muita coisa da história pra poder passar pra filme?" "Sim." "Então. Nos quadrinhos você não precisa se restringir. Sem contar que você pode fazer um trabalho mais literário..." "... com jeito de filme e fôlego pop. É, eu sei. Por que você me faz ter vontade de continuar as coisas, hein?" "Hahahaha..." "Bosta. Até a inspiração parece que já tá vindo." "Hahaha, é que eu tava lendo Persépolis e vi que não podíamos deixar o TAMAGOTCHI morrer. A história tá perfeita pra quadrinhos." "Tem razão. E eu sinto que preciso desligar e correr agora pra máquina de escrever, que as ideias já estão brotando." "Haha, vai lá, vai lá..." "Tchau. Abração. Tô com muita saudade de você." "Eu também. Abraço." "Se cuida." Bom, e agora eu estou com o perfil dos personagens pronto.

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